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Por Chico Amaral
Fernando Vidal é um dos músicos mais instigantes destes tristes felizes trópicos. Há um pensamento claro, uma visão do mundo, no que ele faz. Como os grandes artistas, conta de maneira íntegra a sua experiência.Como os maiores músicos, aprende na oficina infinita da música. Vai contando, com clareza, o que a vida dá e nega. Tomamos conhecimento, por exemplo, de que John Coltrane e Jimi Hendrix não se encontraram, mas, certamente, iriam se encontrar. E o fizeram, por que não? A guitarra de Fernando é uma boa prova disso. Tocando o blues com verdadeiro espírito, apoiado por seus fiéis parceiros André Vasconcelos no baixo e Marc William na bateria num trio perfeito, Vidal se lança, em outro momento, à investigação harmônica mais ousada. Nunca abandona, contudo, seu élan, sua vitalidade (inscrita já no sobrenome). Sua guitarra nasceu pra ser vigorosa, seja no rock, no jazz, no blues ou no funk. Ele domina estes estilos com uma grande verdade, uma total segurança, sempre sacudindo o quarteirão.
Um faixa a faixa bem breve:
Velhaco – Rock’n roll com pegada e inteligência na composição. Um solo sensacional do guitarrista, com passagens que muita gente vai querer aprender.
Funk Batalha – Segundo Vidal, uma peça que exige destreza na mão direita. Funk mesmo, direto do Rio de Janeiro. Sem solos, mas, de novo, uma construção toda especial. Polirritmia nos acentos da guitarra e bom humor.
Bb Coltrane – O baixo cria a atmosfera inicial do blues, a bateria entra com classe, e em seguida a guitarra, num inesperado “turnaround” em B, C e D, pra cair no chorus básico: Bb7;Ab7;G7 e F7, todos com 13ª. E 9ª. Simples, sofisticado e bonito. Na passagem para o jazz mais rápido, cromatismos e ótimas frases . Quase no fim, uma explosão de acordes ascendendo até o clímax: uma paisagem sônica de efeitos, harmônicos, alavanca, etc. E fechando essa suíte guitarrística, um rock apoiado num riff curto e pesado. A faixa recria magistralmente as influências de Fernando Vidal.
Blues Rodrigo de Freitas – Blues nada óbvio. “Você sabe, eu adoro um bluesinho”( Miles). Uma ponte diferente, antes e depois de Fernando nos brindar com mais um de seus grandes solos.
Shulling - Uma síntese de tudo. Humor, clareza, concepção. Um solo perfeito, primeiro em G, depois em F, um som de arrepiar. Volta o inusitado chorus D,G,Bb,B, para terminar na subida cromática final.
Matemático Freezer – Leveza e malícia. Atmosfera lírica, como numa composição de Charles Mingus.
C.T#01 - Rock and roll + Fusion + um solo definitivamente incomum. Cumplicidade importante de ...(baixo) e ....(bateria) na central de aquecimento.
Funk ao Alvinegro - Funk com sopros e a guitarra fazendo o chacundum com malícia, bem pra trás. Depois um pequeno trecho em 6/8 que desemboca num free, com intervenções de trompete e sax tenor. O groove é retomado com mais vigor, para a entrada de um breve e expressivo solo de Fernando.
Jimi Shuffler - Pequeno tema sobre uma levada “nova orleans”, de onde vem, afinal, o funk e tudo mais. Um solo genial do guitarrista, que vale este disco e o próximo. Música cheia de imaginação, como a do próprio Hendrix.
Kamasutra - Groove bem suingado, meio caribe, meio oriente médio, recheado de trechos harmônicos especiais. Destaque para o solo de --- no piano elétrico. A guitarra se encarrega do final, repetindo uma cadência harmônica inusitada.
Kardekiando - Jazz-rock de muita pegada. Fernando Vidal toca como se sua vida, o trânsito, o aluguel, o Botafogo, a distribuição de renda nacional, a saúde do amigo, dependessem de sua música.
Zagamiando - O riff em Sol menor abre caminho para um solo de guitarra cheio de paixão e fúria. Um pequeno especial de três acordes para o solo de baixo e a volta no riff com vigor, para fechar.
Vinheta (Scott) – Saudação ao guitarrista Scott Henderson. Uma cadência de acordes contemplativos em Dó maior/Lá menor, fechando com serenidade este trabalho extraordinário de Fernando Vidal.
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