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Por Macrocefalia Musical
É raro, mas pode acontecer. Você alguma vez já pegou um disco (seja ele no formato físico ou digital) e ficou encarando a capa? Não sei se existe um pensamento ''exato'' por trás desse ato, mas quando faço isso, geralmente penso: será que o conteúdo refletirá o que vejo na arte?
Por Macrocefalia Musical
É raro, mas pode acontecer. Você alguma vez já pegou um disco (seja ele no formato físico ou digital) e ficou encarando a capa? Não sei se existe um pensamento ''exato'' por trás desse ato, mas quando faço isso, geralmente penso: será que o conteúdo refletirá o que vejo na arte?
Por vezes é uma viagem sem volta. Como poderia saber que um prisma refletiria tanto Prog na forma de Pink Floyd? Jamais imaginaria que o Jeff Beck arrebataria meus ouvidos com um som tão futurista, ostentando uma maçã na capa de seu Jeff Beck Group, ou que o Led Zeppelin, fosse derreter minha mente da mesma forma que aconteceu com a carcaça do dirigível em chamas do Led I.
Não é um sistema à prova de falhas, muitas vezes as artes dos discos são trabalhos paralelos que tentam unir teias por conceitos diferentes. É uma maneira que propõe um novo ângulo de observação artístico para linkar um trabalho. A ideia é criar um signo, algo que você olhe e imediatamente pense: essa mina de Black Power é do ''Maggot Brain''.
Volto a repetir o mantra: é complicado achar um todo bem sincronizado, mas quando você acha e aprecia as notas, o baque é ainda maior. Você escuta o disco e frita de uma maneira quase conceitual. É como se você se identificasse com aquilo, da mesma maneira que o músico que está nos créditos o fez. É algo limpo e que não tenta se esconder, o groove é reto.
Arte: Inácio Eugênio - Crowl |
E se tem um registro que vai lhe atingir como um porrete, desde a capa e desnorteará sua bússola psicológica, meu amigo, esse trampo será o EP dos paraibanos do Augustine Azul. O autointitulado lançado (virtualmente) no dia 01 de julho de 2015 é extremamente fiel ao que é relatado na capa e, digo mais, se eu deixei de falar algo, desculpem-me, desde que saquei essa jam, possuo dois martelos cravados no meu cérebro. A fritação Prog-instrumental do trio é violenta
Se teve um registro nacional que me pegou pelo pé foi esse aqui. A pegada do trio é assustadora. A bateria pesa, mas com técnica, bombeia o sangue da síncope para todos os instrumentos e mostra uma versatilidade notável, deixando claro desde a base, que o que temos aqui é uma cozinha bastante inventiva, livre e casca grossa.
O baixo de Jonathan Beltrão não caminha com a bateria de Edgard Moreira o tempo todo, ele desafia a guitarra, joga novos graves, deixa tudo mais torto e adiciona um groove bastante ácido em meio à tantas influências diversas. Insights que surgem desde o Stoner, passando pela psicodelia e um groove Funky que encerra o EP com ''Aquele Arregaço'', literalmente.
Na guitarra, João Yor fecha o pack, servindo como o norte de tudo que acontece aqui. Só que cuidado com essa frase, durante os quase 25 minutos que as notas surgem como um choque de taser, todos os instrumentos disputam espaço de maneira contundente.
Só que a fagulha que fará deste som, algo único nos seus fones, é justamente a criatividade de cada música. A diversidade de influências e a técnica crua de cada um dos envolvidos, que com um conceito muito bem definido, impressionam pela exatidão das timbragens.
Falei tanto das artes antes do texto por que você vai olhar pra essa daqui pra frente e lembrar: vish. É um trabalho marcante, seco e que define a força de um grupo que conseguiu achar um conceito e extendê-lo de forma rica sem se perder.
Aqui tem muito Blues, aquelas Hardeiras obscuras, música brasileira, ácido e no fim das contas o estrago chega com a força de um ''Mesclado'' mesmo. A química da banda é fervorosa, o baque é ''3>1'' na entrada, a pancadaria é vertiginosa e no fim parece que você vai cair, mas quando tudo ficar turvo, só verás um ''Teto Preto'' batizando jams ao vivo (a especialidade deste trio), como se a vida fosse uma eterna brisa num festival qualquer em 1900 e ''Setenta e Quatro''.
A cena underground brasileira vai muito bem (obrigado) e são grupos como esse, que além de evidenciarem o tato de nossos músicos e o alto nível das gravações made in Brazil (sem trocadilho), ressaltam ainda mais o puro néctar da música instrumental, nos provando por A + B, como é possível falar muito, sem precisar necessariamente cantar algo concreto.
Uma bomba de estilhaços com um laço Prog para amarrar a ideia, esse é o Augustine Azul e seu EP. Depois da primeira audição parece que você saiu correndo e atravessou uma porta de vidro temperado. Que muqueta, é tão bom que até o nome do ''Nando Reis'' passa batido!
ENTREVISTA:
1- O conceito base do som de vocês é o rock progressivo e não o stoner, como muitos pensam. Como essa escolha estética faz vocês trabalharem pra mesclar influências e não se fechar dentro de um estilo apenas ?
O Rock Progressivo permite uma liberdade muito maior ao compor, pois conseguimos variar de maneira extrema o que é produzido dentro da música, como os compassos, tons, frases e temas. Algo que nos possibilita passear além do Rock Progressivo, mas o faz mantendo uma sonoridade que nos é íntima. Gostamos de escutar vários gêneros e isso se reflete no nosso som, que passeia não só pelo Stoner, mas absolutamente tudo que consumimos musicalmente.
2- E a banda, como se deu a formação do Augustine Azul ?
Eu (João Yor) e o Jonathan estávamos fazendo umas jams com nossos amigos. Daí pra frente as composições foram surgindo e a necessidade de ser uma banda também. O baterista dessas jams já tinha projetos e preferiu não continuar, depois Jonathan conheceu Edgard num bar e deu start na lombra.
3- O som desse EP é elementar por vários motivos, mas creio que o principa seja o caráter orgânico do todo. Como foi o processo de gravação ?
Sendo bem sincero, as condições não foram nem um pouco favoráveis, mas contamos com a ajuda de uma galera muito massa. Um amigo liberou a sala do home studio e uma bateria, os microfones arrumamos com outro parceiro, depois captamos a batera do jeito que deu e colocamos a guitarra e o baixo em linha, pra depois editar, mixar e masterizar tudo por conta própria e tá aí rolando.
4- Na última session dessa gravação ("Nando Reis/Aquele Regaço"), o EP se encerra num boggie funkeado que é veneno. Vocês pensam em trabalhar mais com esse elemento ácido e gravar algo mais swingado num futuro próximo?
Sim, a gente viaja muito compondo e temos uma influência muito forte de Funk, mesmo não tocando o estilo propriamente dito, inclusive, já temos alguns riffs que transparecem mais nitidamente esse grooveado que o funk possui.
5- E daqui pra frente, quais são os planos? Dá pra soltar ou está tudo em off ainda?
Bicho, a gente tá em processo de composição e planejando lançar um álbum no próximo ano. Temos também músicas novas que já tocamos ao vivo e algumas que estão sendo compostas nos ensaios dos shows do EP. Ano que vem tem coisa nova com certeza!
6 - O Conceito trio remete bastante aos combos clássicos dos anos setenta, como o Taste e etc, mas como é essa química no víes de vocês, o instrumental ?
Nós achamos que o conceito de trio remete ao triângulo e a sua perfeita harmonia estética e prática. Além do som correr mais rápido, por ser mais concentrado, a gente se sente bastante confortável ao trabalhar junto, é uma liberdade massa de criação.
7- Pra finalizar, gostaria de agradecer pela atenção, o som de vocês é bastante singular. Aliás, falando nisso, o que os senhores estão ouvindo no momento? Algum desses sons acabou influenciando a gravação do EP de alguma maneira?
Pô, muito obrigado pelo elogio e pelo carinho com nosso som! Nós escutamos muito Led Zeppelin, Captain Beyond, Rush, King Crimson, Pink Floyd, Sleep, Down, EYEHATEGOD, Pantera, Wolfmother, Radio Moscow, Audioslave... É bem relativo como tudo isso entrou como influência no EP, acreditamos que interfira mais na maneira como desenvolvemos o gosto para não só escutar, mas criar sons.
João Yor - guitarra
Jonathan Beltrão - baixo
Edgard Moreira - bateria
Jonathan Beltrão - baixo
Edgard Moreira - bateria
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