Formado em 1984, o grupo paulista Violeta de Outono surgiu após o término do grupo de BRock Zero. Se consagrou no país, durante a década de 80, por trabalhos como Violeta de Outono (1987) e Em Toda Parte (1989). Entre idas e vindas, o grupo permanece na ativa, liderado pelo guitarrista e vocalista Fabio Golfetti.
Este é o sétimo disco da discografia geral do grupo (antes, além dos dois citados estão Mulher na Montanha, Ilhas, Eclipse e Live at Rio ArtRock Festival ’97), e estão, além de Fabio, os músicos Claudio Souza (bateria), Gabriel Costa (baixo) e Fernando Cardoso (teclados).
Volume 7 abre com “Além Do Sol”. Apesar de ser o Violeta De Outono que conhecemos, a banda ganhou uma sonoridade completamente diferente. Em parte pelos teclados, principalmente o órgão Hammond de Fernando. O baixo de Gabriel também é influência direta, já que existe uma grande diferença entre o estilo de Ângelo Pastorelo (baixista original da banda) - que toca com palheta - e Gabriel que toca com o Pizzicato (dedos). A gravação ao vivo privilegiou, e muito, a sonoridade concisa da banda.
O chamado Canterbury, som fundado por bandas como Soft Machine e Camel, tomou sua forma total nesse disco. Não que a atmosfera psicodélica de Pink Floyd e Gong tenham sumido. De maneira nenhuma! Elas ainda estão presentes, mas de uma outra maneira.
“Caravana” tem um clima espacial, calmo, tranquilo. Pelo menos até chegarmos perto do segundo minuto da música, quando o Hammond toma conta do som e a banda engata um ritmo mais enérgico. A guitarra de Fabio é sempre um caso à parte! Cortante, correta, precisa. Gosto do som que ele tira de suas Fenders. Os vocais etéreos fazem você viajar, literalmente, sem nenhum aditivo. Basta sentar-se confortavelmente pra escutar a faixa que soa como uma homenagem direta a banda inglesa Caravan.
Se eu não conhecesse a banda, não diria que ela é brasileira. ”Broken Legs”, terceira faixa, foi composta por Fernando Alge (assim como a próxima do disco) e tem um ritmo sincopado mais alegre, incluindo alguns trechos em que Fabio utiliza a técnica do glissando (técnica que consiste em utilizar um objeto metálico nas cordas da guitarra para se obter diferentes sons).
Em “Eyes Like Butterflies“, uma coisa é certa: Fernando faz uma diferença enorme no som da banda. Quem, assim como eu, ouviu os discos anteriores, sabe do que eu estou falando. O uso do Hammond ficou perfeito com a sonoridade das canções. O refrão é uma beleza sublime… “Eyes of the morning sun…”, perfeito! Gosto muito da sequência de baixo e bateria logo após o primeiro refrão! A dupla Gabriel / Claudio conduz muito bem a melodia que acompanha o verso e, na sequência, o maravilhoso refrão. Uma das minhas preferidas do disco.
Pouco depois dos três minutos de canção, Fernando souza ataca um poderoso solo eom seu Hammond. Definitivamente, a gravação nos estúdios MOSH (um dos melhores da América Latina) fez diferença.
Parceria entre Fernando e Fabio, “Em Cada Instante”, traz o que mais me chamou atenção no disco: a unidade que a banda conseguiu. Volume 7 não soa como um disco de canções à parte. Mesmo quando sabemos que três das oito músicas foram compostas bem antes desse disco ficar pronto. Muitas vezes ouvi discos em que todas as músicas parecem uma só. Não me refiro a discos conceituais como The Wall (1979) do Pink Floyd, por exemplo. Me refiro a discos em que todas as canções soam como uma só mesmo.
O Violeta De Outono conseguiu manter uma unidade tão grande que o disco toca sem percebermos que as canções estão passando. Isso, meus caros amigos, é o que chamo de um disco que flui com perfeição.
“Pequenos Seres Errantes” foi composta originalmente para o projeto Invisible Opera Company Of Tibet e utiliza na sua totalidade a técnica glissando. É incrível a sonoridade da faixa. Poética (sem nem mesmo ter palavras), psicodélica, espacial, viajante, ondular… Por algum motivo, essa palavra me veio à mente enquanto eu ouvia essa faixa.
O órgão presente tão densamente nas faixas anteriores é trocado pelos sintetizadores. Sons são disparados ora aqui, ora ali. Coisa de quem já tocou muito Rock Progressivo (Fernando já tocou em bandas cover de Yes e Rush). O solo que aparece perto do sétimo minuto de canção nos mostra isso claramente. Descansem seus corpos, relaxem e viajem um pouco dentro de suas cabeças.
Em “Ponto De Transição“, o piano dá o som. Bela melodia! A voz de Fabio é frágil, é isso que dá a beleza que ela tem. Nunca gostei de bandas que tem vocalistas de verdade. Na minha opinião, os melhores vocalistas são pessoas que não tem voz para cantar como Geddy Lee (Rush), Roger Waters (Pink Floyd), Peter Gabriel (Genesis) ou, saindo um pouco do campo Progressivo, Ozzy Osbourne (Black Sabbath). Fabio Golfetti está nessa lista!
O disco encerra-se com “Fronteira“. Acredito que esta seja influência direta de Camel. O baixo, a bateria, os teclados, o estilo melódico, totalmente Camel da fase Mirage (1974) e Moonmadness (1976). Não uma cópia, influência direta mesmo.
O órgão aos 3:20 chega a dar medo com tamanha quebra de melodia que o mesmo causa. Em seguida, a música toma forma completamente diferente com riff em tempo quebrado e apocalíptica. Quando voltam ao tema original, quem chama atenção é Claudio com sua bateria intrincada e quebrada. A repetição da parte estranha vem ainda mais estranha, torta, fora do tempo e bem soturna. Ótima faixa! Junto com “Eyes Like Butterflies” é minha faixa preferida. Terminamos o disco com a sensação de que acabamos de ouvir um dos melhores discos dos últimos 20 anos. Parabéns à banda!
Acho que não é necessário dizer que esse, pra mim, é o melhor disco da banda. E o melhor disco no estilo já lançado por terras brasileiras. Se o Violeta De Outono tivesse nascido na Inglaterra, seria um clássico mundial!
O CD vem com uma faixa extra em formato vídeo gravado nas sessões do álbum. Trata-se de uma música do Santana: “Let The Children Play”. Vocês podem ver esse vídeo aqui.
Track list
1. Além Do Sol
2. Caravana
3. Broken Legs
4. Eyes Like Butterflies
5. Em Cada Instante
6. Pequenos Seres Errantes
7. Ponto De Transição
8. Fronteira
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