domingo, 26 de junho de 2016

Vanusa [1971]

Yandex 320kbps


Por Mauro Ferreira em Notas Musicais

Na segunda metade dos anos 1960, a soul music exportada pelos Estados Unidos para o universo pop daquela década ecoou na música brasileira, influenciando a discografia de cantores importantes como Elis Regina (1945 - 1982) e Roberto Carlos. Projetada em 1967, ainda no reino da Jovem Guarda, a cantora Vanusa Santos Flores - paulista criada em cidades do interior de Minas Gerais - também encorpou seu som com a alma do soul. A viagem pelo soul começou no seu segundo álbum - o psicodélico Vanusa (RCA-Victor) de 1969 - e prosseguiu no até então raríssimo álbum Vanusa (RCA-Victor) de 1971. A reedição deste Vanusa de 1971 valoriza a primeira das duas caixas com reedições de álbuns da cantora, produzidas pelo pesquisador musical Marcelo Fróes para as duas caixas lançadas simultaneamente neste mês de agosto de 2015 pelo selo Discobertas. A caixa Vanusa vol.1 (1967 - 1973) embala reedições - com faixas-bônus - dos quatro primeiros álbuns da cantora. Três já tinham sido reeditados em CD. A exceção é justamente o Vanusa de 1971, álbum que traz breve resquício de psicodelia - em sintonia com sua capa - na faixa Ponte aérea: 15 horas (Wilson Miranda e Messias) - mas que é essencialmente pautado pelo espírito do soul. O disco é primoroso. Nele, Vanusa canta a então atualíssima 1971 (Antonio Marcos e Mário Marcos), dá voz a uma boa (e esquecida) canção soul de Ivan Lins com seu parceiro inicial Ronaldo Monteiro de Souza (O dia e a hora), recria com energia o standard norte-americano Unchained melody (Alex North e Hy Zaret, 1955) e apresenta uma de suas melhores composições (Vai). Com sua voz potente e expansiva, Vanusa mostra em Talvez (Maybe) (Richard Barrett, 1958, em versão em português de Wilson Miranda, 1971) - canção de doo wop que ela encharcou de soul e r & b - que também tinha se diplomado na escola da Motown. O álbum Vanusa de 1971 marca também a aparição do cantor e compositor paulista Antonio Marcos (1945 - 1992) na discografia da artista, com quem a cantora se casaria. Marcos faz dueto com sua parceira na vida e na música em Agora eu sei, versão em português de Where are you going to my love? (Billy Day, Tony Hiller e Mike Leslie, 1970), soul gravado por Vanusa e Marcos no estilo do som ensolarado do musical Hair, sucesso no Brasil naquele ano de 1971. Pelo seu ineditismo no formato de CD e também pelo vigor do repertório, o álbum Vanusa de 1971 já vale aquisição da primeira das duas caixas da cantora. Trata-se do melhor disco da artista na sua fase na gravadora RCA, iniciada em 1967 com a edição de compacto do qual Marcelo Fróes insere o raro lado B O geguege (Il geguege) (Canfora e Wertmuller em versão de Vanusa, 1967) como faixa-bônus do álbum Vanusa de 1968, mais voltado para os rocks e baladas que imperavam na era da Jovem Guarda. A faixa-bõnus valoriza a reedição, já que os álbuns de 1968 e 1969 - ambos intitulados Vanusa - já tinham sido reeditados em 2001 pela gravadora BMG na série 2 LPs em um CD. Da mesma forma, o álbum Vanusa de 1973 - disco que marcou o ingresso da cantora na gravadora Continental, estourando nas rádios a faixa Manhãs de setembro (Vanusa e Mário Campanha, 1973) - já tinha sido relançado no formato de CD em 2006 pelo pesquisador musical Rodrigo Faour na série As divas. Mesmo assim, a inclusão de bônus como a gravação do tema de abertura do programa Fantástico - composto por Guto Graça Mello com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho e gravado por Vanusa em 1973 para a então nova revista semanal exibida pela TV Globo nas noites de domingo - incrementa a atual reedição do álbum de 1973 nesta oportuna caixa do selo Discobertas que mostra Vanusa em estágio inicial, cheia de soul, alma e voz.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Macaco Bong - This is Rolê [2013]

Yandex 320kbps


Por Cleber Facchi em Miojo Indie

As guitarras e o peso da instrumentação sempre foram constantes naturais e necessárias à carreira da banda Macaco Bong. Ainda que favoráveis a esse tipo de manifestação acústica, nunca antes tal predisposição teve tanto espaço (e impacto) dentro de um registro do grupo cuiabano quanto agora. Com a chegada do raivoso This Is Rolê (2012, PopFuzz/Travolta Discos), segundo álbum do trio mato-grossense, podemos observar uma transformação descomunal no uso ativo de acordes e distorções densas que (ainda assim) fluem capazes de nos convidar para dançar. Um álbum raro que mantém o peso de forma integral, sabe como arriscar e ainda assim funciona de maneira tão comercial quanto um típico tratado radiofônico.

Sucessor do aclamado Artista Igual Pedreiro – obra conceitual lançada em 2008 e eleita por uma série de publicações como o melhor registro daquele ano -, com o novo disco a banda preza por um som de consideráveis transformações e aberturas sonoras. Ora afundado em distorções soberbas que flertam abertamente com o Sludge Metal, ora dançante e até capaz de capaz de atrair o espectador de ouvidos “despreparados”, o recente projeto de nove faixas mantém a veia instrumental do lançamento anterior, se desvencilhando de composições volumosas e jazzísticas para tratar abertamente de um som “simples” e despretensioso.

Antes mesmos de iniciarmos a absorção do disco com a pulsante e crua Otro, a capa colorida do trabalho – que além do título chamativo traz o anúncio de “experimente isto!” – já proclama que os rumos do presente trabalho são completamente outros. Mesmo que a presença de faixas mais extensas e complexas ainda seja recorrente no executar da obra, em nenhum momento a banda parece percorrer a mesma via instrumental dos projetos anteriores, evitando ao máximo a construção de músicas que se assemelhem ao que fora proposto no EP Verdão e Verdinho ou em músicas como Vamos Dar Mais Uma, Bananas For You All e outras grandes (não apenas em extensão) canções que definiram a estrutura do primeiro disco.

Se a proposta do novo álbum é de aproximar a banda de um som mais “pop” e leve, não há como negar que o grupo alcançou com empenho esse resultado. Dos riffs flamejantes que se concentram no interior de O Boi 957 ao toque ensolarado que se manifesta no single Summer Seeds (uma espécie de trilha sonora para algum seriado pós-adolescente), tudo se configura de maneira distinta ao que fora testado há quatro anos. Mesmo que as guitarras ainda bebam dos primórdios do pós-rock (principalmente de bandas como Slint) e até se entreguem abertamente ao que artistas como Kylesa, Isis e Queens Of The Stone Age promoveram em suas recentes obras, a maneira como o som ecoa fácil e sem compromissos em nossos ouvidos apenas reforça essa tendência, um reflexo da postura renovada que a banda assume sem grandes alardes e natural acerto.

Agora em nova formação, o trio mostra que mesmo com a saída do baixista Ney Hugo, a linearidade e a força do projeto ainda se mantém em alta. Gabriel Murilo, músico que vem para ocupar o lugar do ex-integrante, torna pública a destreza com o instrumento logo nos segundos iniciais de Broken Chocobread e Copa dos Patrão, composições que carregam nos grooves marcantes das linhas de baixo uma espécie de herança aprimorada do que fora deixado pelo antigo colaborador. Sobra até espaço para o ex-Mutantes Túlio Mourão (convidado de honra do novo disco) derramar assertivas melodias de piano nas músicas Seu João e Dedo de Jombie, dois dos momentos que mais aproximam a banda do disco anterior.

Descomplicado por natureza, This Is Rolê assume exatamente o que manifesta no título da obra: uma trilha sonora descompromissada para um passeio corriqueiro pela estrada – seja ela física ou metafórica. Dividido em duas metades bem perceptíveis (uma mais raivosa e outra mais suave), o disco se afasta com sabedoria da imagem criada pela banda desde os primeiros singles virtuais, mostrando que para além do som épico construído em outras épocas a Macaco Bong também sabe como promover um registro fácil e de composições amenas. Interessante notar que ao mesmo tempo em que se distancia de um som possivelmente complexo, o grupo estimula o crescimento de um disco tão rico que é capaz de superar (sem grandes esforços) qualquer expectativa, prova de que até “brincando” a banda sabe como nos impressionar.


1 - Otro
2 - O Boi 957
3 - This Is Rolê
4 - Broken Chocobread
5 - Copa dos Patrão
6 - Mullets
7 - Summer Seeds
8 - Seu João
9 - Dedo de Zombie


Bruno Kayapy - guitarra, violão, viola-caipira
Ynaiã Benthroldo - bateria
Gabriel Murilo - baixo

sábado, 18 de junho de 2016

Zé Ramalho - Frevoador [1992]

Mega FLAC


Por Evandro C. Guimarães* em Restinga Musical

Com este lançamento, novas perspectivas começavam a se abrir. A canção "Entre a Serpente e a Estrela", versão de Aldir Blanc para uma música estrangeira, foi incluída na trilha sonora de uma novela televisiva de sucesso. O cantador começa a retornar a mídia e recuperar seu espaço, que havia perdido por conta dos dramas pessoais.

Mais importante que o retorno a mídia, FREVOADOR marcou o reencontro do cantador com a sua melhor forma. A música título, é uma versão de Zé Ramalho para Hurricane de Bob Dylan, uma das grandes referências da carreira do nosso herói. Transformada em um frevo, a canção ganha força e nova "personalidade". As baladas "Serpentária", parceria com o grande Sivuca, e "Nona Nuvem" trazem uma nova musicalidade e uma nova faceta dos versos do cantador: a sensualidade. Esta temática seria cada vez mais explorada nos álbuns seguintes, trazendo um novo componente na carreira do nosso cantador. Obviamente, os elementos já tradicionais na música do compositor, como as referências à mitologia e o tom visionário e profético, continuavam presentes, como comprovam as músicas "Botas de Sete Léguas" e "Do Terceiro Milênio para Frente."
*texto integral você encontra no Restinga Musical


A1 - Frevoador (Hurricane)
(Bob Dylan/Jacques Levy) versão Zé Ramalho
A2 - Serpentária
(Zé Ramalho/Sivuca/Glorinha Gadelha)
A3 - Nona nuvem
(Zé Ramalho/Vital Farias)
A4 - Da mãe
(Zé Ramalho/Chico Guedes)
A5 - Entre a serpente e a estrela
(Terry Sttaford/P. Fraser) versão Aldir Blanc

B1 - Cidadão
(Lucio Barbosa)
B2 - A história do Jeca que virou Elvis Presley
(Zé Ramalho/Carlos Fernando)
B3 - Botas de sete léguas
(Zé Ramalho/Hugo Leão)
B4 -  Porta secreta
(Zé Ramalho)
B5 -  Do terceiro milênio para frente - parte II 
(Zé Ramalho/Oliveira de Panelas)

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Quarto Astral - Fenda Uni Verso [2016]

Por Peter Noya

Fenda Uni-Verso, terceiro álbum da Quarto Astral, é inspirado em reflexões sobre a sociedade moderna e sua rotina, que, desde então, denunciam os abusos e o descaso cometidos pela humanidade contra o planeta. Neste sentido, o registro lança uma advertência sobre a nossa relação com o cosmos e se condensa no eco da nossa consciência parasita.

No entanto, apesar de sua alusão crítica e uma retórica sonora poderosa e impactante, o álbum desliza também entre leveza e esperança, favorecendo uma lucidez própria para assumir nossas responsabilidades. 

A Quarto Astral, neste novo álbum, expressa esse momento transitório - talvez eterno - de transformação. Em que melodias transmutam-se em atmosferas, para em seguida, desdobrarem-se e dividirem-se em um sentimento paradoxal:
Existe apenas uma única realidade?

Ao ouvir as oito faixas do Fenda Uni-Verso, talvez você possa aproveitar para perceber que, enquanto respira, você estará projetando o seu destino. E que cada alma humana não é, de fato, UMA alma humana: é a alma do universo inteiro. Enquanto você cumprir a vontade do universo, é impossível fazer a escolha errada... 


1 - Tudo é um 
(Thiago Brandão/Bruno Brandão/Marcelo Rangel)
2 - Visões
(Thiago Brandão/Bruno Brandão/Marcelo Rangel)
3 - A Passagem
(Thiago Brandão/Bruno Brandão/Marcelo Rangel)
4 - O Contato 
(Thiago Brandão/André Carneiro/Bruno Brandão/Marcelo Rangel)
5 - Terráqueos
(Thiago Brandão/Bruno Brandão/Marcelo Rangel)
6 - They Are Among Us
(Thiago Brandão/Tiago Guillen/Bruno Brandão/Marcelo Rangel)
7 - Força Vital
(Thiago Brandão/Bruno Brandão/Marcelo Rangel)
8 - Universe in Flames
(Thiago Brandão/Bruno Brandão/Marcelo Rangel)

terça-feira, 7 de junho de 2016

Walter Franco - Ou Não [1973]

Mega FLAC
Yandex 320kbps


Por Diego Albuquerque em  Altnewspaper

Walter Franco é um daqueles cantores populares que receberam a alcunha de “Maldito”, um erro crasso de sua geração, ao ser chamado de louco (entre outros termos). Talvez por ser uma das cabeças que pensavam diferente das demais, tanto em suas letras, quanto em suas canções, muito a frente do seu tempo. Em Ou Não, seu segundo disco lançado em 1973, ele conseguiu compilar suas melhores músicas em um dos melhores registros da música brasileira feitos até hoje. Tanto que algumas de suas composições são de conhecimento popular, mesmo que o Walter não possa ser chamado de um cantor popular, já que ele pouco toca em rádio, ou tem seu reconhecimento em novelas da Globo (apesar de ter rolado algumas na época, mas hoje, só Robertão) .

Ou Não, ou o disco da mosca, por conta de sua capa minimalistaa e incrível, é um passeio por toda psicodelia contida na vanguarda da música feita no Brasil, recheado de linhas de baixos carregadas, uma viola pra acompanhar e uma percussão/bateria pouco usual. A primeira faixa do disco “Mixturação”, já tenta explicar como funciona a cabeça, o som, a imaginação deste grande artista, que usava a voz como mais um instrumento em diversos momentos das 10 faixas do disco, com diversos efeitos nos vocais. Em letras simples, mas carregadas de melancolia e duplo significado, ou subjetividade interpretativa, tal qual “No Fundo do Poço”, quando diz que “quem passar por cima do muro, vai ver que tudo é tão simples e profundo”.

Das minhas canções preferidas deste disco, na sequencia, temos “Flexa”, onde o uso de onomatopeias é genial, em meio a efeitos sonoros (vocais) ou utilizando percussões dentro do estúdio. Deve ter sido uma doideira a gravação. “Me Deixe Mudo”, uma das letras mais sinceras do compositor Walter Franco, onde ele diz “Seja o avesso, seja a metade, se for começo. Fique a vontade e não me pergunte, não me responda, não me procure, não se espante, não diga nada”, convidando todos a adentrarem e participarem desta ode sonora produzida por ele de coração e cabeças abertas.

Em “Xaxados e Perdidos”, o músico e seu bando mostram outras verves sonoras seguidas por ele, numa música digna do rei do baião, mas com letras menos amarradas, e com um trocadilho sensacional (desde o título) e uma mudança de nuance absurdamente experimental do meio para o final da canção. “Vão de Boca” remete diretamente a “Mixturação” (eu quero que esse afeto saia), onde mais uma vez a letra parece funcionar como uma indireta (ou direta mesmo) para os que não entendem o músico e ele não parece ligar muito pra isso. Fechando o disco temos “Cabeça”, que começa com palavras soltas, remetendo a letra (tal qual o final de “Cabeção”, da banda Cidadão Instigado. Descobriu de onde veio aquilo agora?). É a faixa mais difícil e psicodélica do disco, parafraseando Walter “sua cabeça pode explodir, ou não”. Você não pode passar por sua vida sem ouvir pelo menos uma vez esse belo registro da música psicodélica brasileira, que influenciou e continua influenciando diversos artistas desta nova cena de música torta feita no Brasil.

Participam do “Ou não”, os músicos Américo (acordeon), Diógenes Burani Digrado Filho (percussões geniais), Rodolpho Grani Júnior (contrabaixo, violão aço, baixo elétrico), além do Walter Franco (Violão e vocais). O disco conta com a produção de Walter Silva e Rogério Duprat e foi relançado em CD numa edição dupla, na serie “Dois Momentos” (junto com Revolver, disco de 1975) por Charles Gavin dos Titãs. 


A1 - Mixturaçāo
A2 - Agua E Sal
A3 - No Fundo Do Poço
A4 - Pátio Dos Loucos
A5 - Flexa

B1 - Me Deixe Mudo
B2 - Xaxados E Perdidos
B3 - Doido De Fazê Dó
B4 - Vāo De Boca
B5 - Cabeça