domingo, 26 de maio de 2013

Mutantes - Jardim Elétrico [1971]

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Por Rodrigo Mattar
publicando em 10 de dezembro de 2008 no A Mil Por Hora

A história do quarto álbum dos Mutantes gravado no Brasil é bastante singular: a banda tinha aceito um convite para apresentações no exterior, feito por intermédio do empresário Marcos Lázaro e durante sua estada na Europa, gravaram nos estúdios Des Dames, em Paris, um disco inteiro chamado Technicolor. Produzido por Carlos Olms, este trabalho demorou incríveis três décadas para ser lançado, porque segundo consta em diferentes fontes, a Philips não demonstrou grande interesse no projeto de fazer os Mutantes um grupo a nível internacional.

Potencial eles tinham de sobra pra isso e, atuando como um quinteto, a banda seguiu adiante tocando o barco e a pré-produção do novo disco, que aproveitou músicas gravadas para o álbum que ficou inédito por tão longo tempo. Jardim Elétrico é uma salada de estilos, que vão do soul ao rock and roll, resvalando também na tropicália – que já tinha tido seu fim tempos antes.

O que imediatamente chama a atenção do ouvinte é a capa: um desenho psicodélico de Alain Voss trazendo uma planta gigante e engraçada. Trata-se, para os mais desavisados, de um pé de cannabis, a popular Maria Joana. Mas tirando o impacto visual, o disco (com produção de Arnaldo Baptista), tem ótimas faixas.

A começar por “Top Top”, com vocais gritadíssimos de Rita Lee e o famoso refrão eu quero que você se top top top uh! (corruptela para “eu quero que você se f***”), com a banda se apropriando do que dizia o imortal “Fradim” do Henfil nas páginas do Pasquim.

Os Mutantes não perdem a oportunidade de arrancar boas risadas do ouvinte, com a hilária “El Justiciero”, misturando português com espanhol, no seguinte estilo: yo tengo treinta hijos con hambre… socuerro El Justiciero… e por aí vai. Em “Portugal de Navio”, uma novidade: Liminha divide os vocais com o grupo pela primeira vez.

Arnaldo Baptista evoca Tim Maia em “Benvinda” e em “It’s very nice pra xuxu”, o que provocou ácidas críticas da imprensa na época. Mas isso não afeta outros grandes momentos do disco: a linda balada “Virgínia”, uma homenagem à uma das irmãs de Rita Lee; os riffs pesadíssimos da faixa-título; e uma das três versões que os Mutantes fizeram para “Baby”, de Caetano Veloso.

Em muita coisa, Jardim Elétrico continuava sendo um disco essencialmente com a cara dos Mutantes. Mas com brigas internas acontecendo ano após ano, pelos mais banais motivos, a unidade da banda começou a se dissolver até a saída de Rita Lee em 1972, movida a crises de ciúme, viagens de ácido e outros baratos.

Ficha técnica de Jardim Elétrico
Selo: Polydor / Universal Music
Gravado em São Paulo, no início de 1971
Produzido por Arnaldo Baptista
Tempo: 38’37″

Músicas (*):

1. Top Top (Mutantes / Liminha)
2. Benvinda
3. Tecnicolor
4. El Justiciero
5. It’s very nice pra xuxu
6. Portugal de Navio
7. Virgínia
8. Jardim Elétrico
9. Lady Lady (Mutantes / Liminha)
10. Saravá
11. Baby (Caetano Veloso)

(*) todas as demais faixas de autoria de Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias

sábado, 4 de maio de 2013

Raul Seixas e Marcelo Nova - A Panela do Diabo [1989]

Yandex 320kbps


Por Ayrton Mugnaini Jr. 
Publicado em novembrro de 1989 na Revista Bizz


A Panela do Diabo — Raul Seixas e Marcelo Nova (WEA)

Quis o Diabo, o grande Pai do Rock, que um de seus mais ilustres netos — e talvez o mais influente músico do rock brasileiro (não confundir com rock feito no Brasil) fosse embora no mesmo dia do lançamento do seu último LP.

Embora, nos seus últimos shows, Raul se mostrasse fora de forma — era Marcelo Nova que segurava a festa —, o vinil prova o contrário. Na verdade, esta Panela é bem melhor do que já prometiam o primeiro LP solo de Marcelo, ou mesmo a parceria de ambos (“Muita Estrela pra Pouca Constelação) no álbum de despedida do Camisa de Vênus (Duplo Sentido, 1987).

O interessante é notar que o tema “morte” aparece apenas nas composições de Marcelo — na metafórica “Quando Eu Morri”, e em “Rock’n’Roll” (“Por aí os sinos dobram... / Se são sinos da morte ainda não bateram para mim”).

Ninguém adivinharia que Raul estava na reta final. Aqui, ele canta melhor do que Marcelo, embora eles acabem formando uma dupla vocal tão desafinada quanto os Vips — o que se encaixa perfeitamente no espírito country rock de todo o LP. Além disso, Raul conta com o acompanhamento instrumental mais do que adequado da Envergadura Moral, secundada por Rick Ferreira (da banda de Raul) na guitarra, e André Christovam, tocando guitarra e violão. Sinal dos tempos: Raul e Marcelo já podem se apresentar na contracapa como “Putos Brothers”.

O LP faz jus à veia debochada de Raul e Marcelo, tratando de assuntos de qualidade como Rushdie ou o cacique Sting. A dupla fala ainda de seus problemas com bebida e/ou drogas (“Banquete de Lixo”, “Quando Eu Morri”). Raul, grande personalista do rock, assume mais um título: “Eu sou o mistério do sol” (em “Nuit”, sua faixa-solo neste LP).

Não deixa de ser tocante ouvir Raul dizendo “Aqui é Raulzito... this is rock’n’roll... the real one” (na faixa “Rock’n’roll”, que começa com vinte segundos a capella de “Be-Bop-A-Lula”, de Gene Vincent). Este LP é uma celebração do rock tão boa quanto os Traveling Wilburys da vida.

Ayrton Mugnaini Jr. (novembro de 1989)

de O Berro

A1 Be-Bop-A-Lula
(Gene Vincent, Bill "Sheriff Tex" Davis)
A2 Rock 'N' Roll
(Marcelo Nova, Raul Seixas)
A3 Carpinteiro Do Universo
(Marcelo Nova, Raul Seixas)
A4 Quando Eu Morri
(Marcelo Nova)
A5 Banquete De Lixo
(Marcelo Nova, Raul Seixas)

B1 Pastor João E A Igreja Invisível
(Marcelo Nova, Raul Seixas)
B2 Século XXI
(Marcelo Nova, Raul Seixas)
B3 Nuit
(Kika Seixas, Raul Seixas)
B4 Best Seller
(Marcelo Nova, Raul Seixas)
B5 Você Roubou Meu Videocassete
(Marcelo Nova, Raul Seixas)
B6 Cãibra No Pé
(Marcelo Nova, Raul Seixas)